CONFEDERAÇÃO PORTUGUESA DAS COLECTIVIDADES DE CULTURA, RECREIO E DESPORTO

Natália Pão-Duro: As colectividades “enriquecem todos enquanto pessoas”

8 de Fevereiro, 2022

Natália Pão-Duro tem 49 anos e foi eleita presidente da Federação das Colectividades do Distrito de Beja. Esta natural e residente do concelho de Moura desempenha funções de assistente social numa IPSS. Com um mandato pela frente, considera que o mestrado em Educação Social e Intervenção Comunitária pode ajudar a desenvolver e reforçar o movimento associativo da região.

Tem um percurso dentro do movimento associativo, nomeadamente n’Os Leões. Há quanto tempo participa activamente nesta colectividade de Moura?

O desafio como dirigente associativa foi-me colocado em Abril de 2019 para assumir, na lista A, o cargo de presidente do Centro Recreativo Amadores de Música “Os Leões” (CRAM), colectividade com 95 anos de existência. Tem sido, até à presente data, uma aventura positiva pela diversidade de pessoas e problemáticas desafiantes que se têm apresentado no CRAM. De salientar a responsabilidade de toda a equipa de manter todo o legado d’Os Leões e do concelho de Moura. É, desde 2015, considerado de utilidade pública. Os principais objectivos d’Os Leões são sem dúvida alguma a música, sendo que foi com a constituição de uma banda filarmónica que este surgiu em 1926. Desde essa época que o CRAM tem diversificado as suas actividades, nomeadamente no desporto, com diversos troféus nas mais distintas áreas.

O repto que me foi colocado foi de manter o funcionamento associativo do CRAM, sem perder as suas características, preservar os jogos de sala e tradicionais, dando-lhes um cunho particular de heterogeneidade. O atletismo juvenil em parceria com o agrupamento de escolas de Moura é uma aposta de todos os dirigentes associativos, uma vez que do CRAM saíram importantes atletas para os clubes de 1a divisão. Difundir a banda filarmónica, pois esta representa não somente o CRAM, mas o concelho de Moura.

Com a chegada da covid-19 no início de 2020, o desafio aumentou. Como manter a colectividade em funcionamento e todo o plano de actividades?

A realização de algumas actividades online em parceria com a CPCJ de Moura, com a autarquia e com a Associação Unidos pela Televisão de Moura, foi um passo para manter vivo o espírito associativo e de colectivo nos elementos da banda e dos sócios. Em 2021, houve um “alívio” nas medidas restritivas mas tudo aquilo a que os sócios estavam por tradição acostumados teve algumas mudanças. No entanto, mantiveram-se as medidas que se encontram explanadas no plano de contingência e aos poucos fomos animar as ruas, participámos nas festas tauromáticas, com o concerto do nosso aniversário “abrimos” portas à comunidade em geral para uma visita à exposição dos 95 anos do CRAM. Fizemos ainda a apresentação de um passodoble composto por um músico desta colectividade num concerto dos 50 anos, do Real Grupo de Forcados Amadores de Moura, e o concerto de natal em parceria com a autarquia, com animação do comércio local em parceria com o INATEL, motivou-nos ainda mais. Estamos convictos de que este ano as actividades serão possíveis de realizar para “conquistar” novamente os associados e irmos de encontro a eles perspectivando a melhor recepção por parte da comunidade.

Foi eleita presidente da Federação de Beja. Quais são os principais desafios do seu mandato?

No dia 9 de Outubro de 2021, em Beja, teve lugar uma jornada associativa com uma sessão de informação associativa, encontro de colectividades e as eleições para os corpos sociais da Federação para o triénio. O convite foi extensivo a todas as colectividades e associações do distrito e teve a presença do presidente da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura Recreio e Desporto, o Dr.Augusto Flor.

Os principais desafios a que todos nos propusemos foi a retoma desta Federação já constituída em Janeiro de 2009, o desenvolvimento do trabalho associativo para um reforço do Movimento Associativo Popular (MAP), propondo uma melhor cooperação associativa no distrito, na dinâmica das suas iniciativas mobilizando as populações para a cultura, recreio e desporto.

As instalações físicas são outro dos objectivos, uma vez que a sede desta federação é numa colectividade de Beja, procurando estabelecer parceria com a autarquia de Beja na cedência de um espaço, e aprimorar os contactos com as autarquias. Esta é a base para um melhor desenvolvimento de toda a actividade associativa.

A criação de grupos de trabalho diferenciados – nas áreas da juventude (promoção de mais jovens para o MAP); integração, inclusão e igualdade (incidindo nas pessoas portadoras de deficiência, grupos excluídos e a igualdade de género); cultura e tradição (promoção das actividades das colectividades, como o teatro, cante, filarmónicas e jogos tradicionais); património e desenvolvimento local (apresentação de propostas concretas aos municípios através das colectividades locais) e a comissão de apoio à comunicação, gestão e tecnologia nas associações (melhorar todas as questões relacionadas com a área para uma melhor apresentação do MAP).

Outro grande objectivo é fomentar junto das autarquias protocolos de cooperação com vista a uma relação integrada entre poder local e o associativismo, na prossecução do bem estar das comunidades, desafiando-os para a criação de conselhos municipais do associativismo.

Quantas colectividades há na região?

Federadas são cinquenta e nove, no entanto existe um vasto leque de associações e colectividades no distrito. É um dos objectivos desta federação, que todos os municípios nos facultem os nomes e possíveis contactos das associações/coletividades e desta forma proceder à actualização da base de dados e reactivação das quotas.

Quais são os principais problemas que enfrentam as colectividades do distrito de Beja?

Das reuniões que temos tido com os dirigentes associativos e até por contactos mais informais é notório que os associados estão desmotivados e estes são maioritariamente seniores, é necessário o envolvimento da juventude no MAP.

As despesas fixas que as colectividades e associações têm é outra questão pertinente, uma vez que os apoios do governo central são poucos ou quase nulos e os apoios financeiros por parte das autarquias não resolvem este problema económico, sendo muito difícil as associações e colectividades manterem o seu habitual funcionamento. Todas as questões associadas à pandemia ainda agravaram mais esta questão. Por outro lado, mesmo com todo o apoio da confederação em sessões de esclarecimento e lançamento de documentação a retoma associativa vai indo a passos muito leves.

Qual o peso e a importância do movimento associativo popular na região?

A importância do movimento associativo popular na região é muito pertinente, uma vez que este movimenta pessoas, promove a cultura, desporto e o recreio. São estas colectividades e associações, que ainda mantêm as tradições de cada localidade, animam os bairros e valorizam o trabalho em prol do outro, levando em troca a satisfação das populações.

É este trabalho voluntário que enriquece todos enquanto pessoas e promove uma educação não formal e de cidadania à comunidade envolvente e àqueles que procuram as respostas que o MAP oferece.

É determinante a existência de colectividades para a fruição e produção cultural, assim como desportiva?

Enquanto dirigente associativa a minha opinião é que é muito importante a existência das colectividades e associações. Pois, como já foi mencionado, o movimento associativo move pessoas e é transversal a todas as classes sociais, religião, ideologias políticas e faixas etárias.

Neste movimento associativo trabalha-se a cidadania, que nestes tempos tão conturbados e diferentes que todos estamos a atravessar parece ter caído em esquecimento, esta cidadania é imprescindível para o dia a dia, para a discussão mais consciencializada de todas as problemáticas existentes.

De que forma é que as autarquias se relacionam com o movimento associativo?

No meu ponto de vista penso que há um relacionamento saudável, no entanto há que salientar que o movimento associativo pode propor actividades em parceria com os municípios, mas não devem depender destes para a realização das mesmas.

As autarquias, de alguns anos a esta parte, dinamizam festas, promovem espectáculos desportivos e culturais. Se estas actividades fossem distribuídas pelas colectividades certamente a motivação dos sócios seria maior e mais satisfatória e não se corria o risco das colectividades e associações “fecharem portas”.

 

Last modified: 8 de Fevereiro, 2022

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